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quarta-feira, 26 de novembro de 2008

Regresso a Luanda? Talvez não...

Ao que tudo indica não voltaremos tão depressa para o lugar L.
Infelizmente tivemos conhecimento que não teríamos, para já, hipótese de regresso.


Não gostaria de decepcionar os nossos caros leitores, mas tão cedo não vamos poder relatar as nossas aventuras nas margens do Rio Kwanza, mas se quiserem nas margens do Trancão ou do Tejo pode ser....... Espero que sirva.

segunda-feira, 24 de novembro de 2008

Lisboa menina e moça...

Para quem não entendeu, "ir no quê", é ir "ao coiso", é "ir ali". E o nosso "quê" neste momento é Lisboa, outro lugar L.
É estranho mas toda a gente anda aqui deprimida ou com grandes tristezas, queixam-se só por terem nascido. Sinceramente não entendo mesmo estes lisboetas, é que eu estou contentíssimo só de poder visitar Lisboa, de apanhar ar fresco (em Angola o ar é abafado).
Pode ser que se eu passar mais tempo cá, também seja apanhado por este vírus do pessimismo.

terça-feira, 18 de novembro de 2008

Só para saberem:
-Estamos a ir no quê. Entenderam?

segunda-feira, 10 de novembro de 2008

O Magalhães no rio Kwanza


Vou ser curta para não vos aborrecer com muitas descrições. O barco que me levava pelo rio Kwanza avariou, o motor pifou. Lindo serviço. Sem coletes, sem remos e sem plano B, eu estava no meio do rio, terra por excelência de pequenos e inofensivos bichos chamados crocodilos. Relembro que o barco que estava era uma "chata" de pescador com motor, algo que se vira facilmente e sem deixar rasto.
La consegui safar-me... em pleno nada e no meio de coisa nenhuma havia rede. Quando perguntei ao rapaz que conduzia o barco se havia o tal plano B ele responde-me... Não.heheheheheheeh
Sabem como se chamava? Magalhães. Bolas, pensei, o rapaz tem o nome do famoso computador e melhor amigo do Sócrates, isto nunca vai poder ter um final feliz... Vá lá que até que teve.

sábado, 8 de novembro de 2008

Arranha-céus do Chinese International Fund


O arranha-céus que vêem em frente é a torre do Fundo Internacional Chinês, instituição responsável pelos milhares de milhões de dólares disponíveis para a Reconstrução de Angola a troco de petróleo.
Ao anoitecer a torre iluminava-se com cores berrantes, estilo brinquedo chinês rasca mas em tamanho gigante. Não sei se eram as 4 faces do prédio que se iluminavam ou só duas, nunca consegui confirmar isso, mas que era horrível e uma loucura de gasto de energia e de autêntico gozo para nós (quem mora em prédios em Luanda se não tiver gerador fica muitas vezes sem luz em casa), isso era.
Entretanto nunca mais se acendeu...

A caminho de Cacuaco

Não é muito perceptível mas esta barraca é um esqueleto de um carro coberto com uma camada de cimento e um tecto de "sei lá eu o quê". Estamos na zona da Mulemba, quando se passa o porto de Luanda entramos na zona da Mulemba, é para mim a zona mais caótica da periferia da cidade. Junta zonas industriais (fábricas como por exemplo a da Delta e a refineradora da Sonangol) com armazéns, casas (construídas nas escarpas de lixo calcinado, com mais de 3 metros de altura). A estrada principal é de alcatrão, bastante larga, mas os kandongueiros são ainda mais loucos aqui. Passei aqui de mota, a pendura, e juro nunca tive tanto medo. Quando parei em casa e após 30 minutos de ida e volta tive de voltar a tomar banho, parecia que tinha feito o Dakar.
Ah, já me esquecia, isto também está a mudar...

Bem-vindos


Esta é uma rua, em tempo de chuva, da comuna do Talahady que pertence ao município do Kazenga. Estive aqui há um mês, quando nada disto se via.
Na casa onde estive, quando se abria o portão em vez de subirmos umas escadas ou entrarmos num terreno plano, tínhamos de descer um degrau enorme.
Numa rua sem drenagem onde a via está mais alta que os terrenos das casas, quando chove, dá grandes makas.
O Kazenga é uma espécie de bairro ilegal mas do tipo de barracas, não falo do tipo de vivendas à emigrante. Na comuna do Talahady há um constante cheiro a esgoto e a lixo, Eles dizem que vão mudar isto, que vão criar um milhão de casas ou qualquer coisa assim.
Vamos ver...

terça-feira, 4 de novembro de 2008

Makumba


Foi assim que no Halloween saímos à rua. Estavámos assustadores, mas quem tinha medo que nos vissem assim éramos nós. Passo a explicar:
África tem História de ser um continente muito supersticioso. São normais as notícias de crianças abandonadas pelos pais, nas mãos de seitas religiosas, por acreditarem que elas são feiticeiras. Os Kimbandas (makumbeiros) são muito procurados aqui e normalmente fazem os seus "trabalhos" vestidos da roupinha que Deus lhe deu.
Basicamente o nosso receio era o de sermos linchados na rua. Qualquer coisa como:

-Xé makumba, makumba!!! (gritava a multidão enquanto fugíamos a sete pés).

Por acaso não aconteceu, mas tive um episódio caricato. Depois da festa vim para casa, estacionei o carro e quando vou a sair estava lá um kandengue (jovem) para me controlar o carro:

-Padrinho tá Seguro!!
Eu saio e digo:
-Não tá nada seguro!!
Ele olha para mim e quando vai a repetir a frase fica apenas, no "padrinho" e foge mais rápido que o Obikwelu.

Realmente, se eu não soubesse que era noite de Halloween, ou se nem sequer tivesse noção do que raio era isso. Às 3 da manhã e no meio do escuro, ver um gajo com a minha cara, também me dava para fugir, sendo supersticioso ou não.

quinta-feira, 30 de outubro de 2008

Hello!!! Está aí alguém?? É que ninguém comenta nada... Se quiserem eu calo-me!!!

segunda-feira, 27 de outubro de 2008

Operação stop

Na ilha de Luanda, no caminho de volta, uma senhora polícia manda-nos parar:

-Boa tarde! (diz ela)
-Boa tarde! (dizemos nós)

Vou tirando os documentos, e ela não me diz mais nada, mas começa:

- Desculpa só UEH! Eu sou a outra, também mereço ser feliz. Oh meu senhorEH!! Ai, ai, ai.... (a senhora polícia cantava a nova música de Matias Damásio, "A outra")

Até que lhe entrego os documentos todos, do carro e os meus.

-Este documento está fora do prazo. Vais ter de ligar para a tua empresa.

E eu digo, na pura da descontração e num perfeito sotaque angolano:

-Xé!! Ninguém me vai atender!!

Ela:
- Então o carro vai ficar aqui apreendido.

Eu:
-Então fica já aqui e vamos a pé para casa. O carro nem é meu!

Ela não diz nada e faz outra pergunta, olhando para a minha carta:
-Há quanto tempo entraste cá?

Eu:
-Aterrei a 9 de Agosto. (tinha sido a 1)

Ela:
-Pode seguir!

Eu:
-Mas como faço para resolver a questão dos documentos do carro?

Ela:
-É ir ao registo e fazer a inspecção!!

Eu e a Rita:
-Obrigado e boa tarde!!

Pensámos nós: -Querias gasosa não era? Nada!! Que estes pulas são pobres...

quinta-feira, 16 de outubro de 2008

Já agora: Nunca vos disse mas a nossa empregada chama-se INDIRA GÂNDIA por homenagem dos seus pais ao famoso Nobel da paz.
Esta dama é de ferro, tem treino militar e qualquer dia entro na cozinha sem ela reparar e ao colocar o meu braço no ombro dela, perante o susto, a reacção da Indira será prostrar-me contra o armário.
Mas não é mulata!!!
:( :(

quarta-feira, 15 de outubro de 2008

Divagar

Em África, entre o pôr-do-sol e a escuridão da noite, encontramos a paz. Não lhe quero chamar apenas paz porque é redutor demais e porque o sentimento é indescritível e engole-nos completamente.
Sabem a sensação de estar perante uma obra de arte que nos pasma? É semelhante a esse sentimento, chego mesmo a ficar zonzo pela euforia silenciosa que me percorre o corpo.
É nesta África que eu gostaria de viver e criar os meus filhos, para que eles aprendessem o valor da vida natural e não material.
Já o fiz uma vez! Já consegui presenciar a tradição oral africana à volta de uma fogueira onde os animais são feiticeiros e onde os elementos da terra são controlados por seres ilusórios.
A única coisa que deixámos como colonos foi a língua (a única coisa que não sofre contestação por ter sido boa), o que permite que os contos ou lendas (acreditem que estas são palavras ocidentais demais para descrever o que vos falo) sejam moldados às palavras do povo e não às palavras do tradutor. Porque essa tradição do conto à volta da fogueira não pode ser escrita pois não se passam os cheiros, os sons e a emoção de quem conta, para além do contador merecer por nós uma admiração que o mistifica como personagem narrador indissociável da lenda.
Volto a dizer que nessa África eu sonho viver, mas nesta onde estou não...

terça-feira, 30 de setembro de 2008

Mais imagens de Angola



Mercado do São Paulo



Zungueiras



Baia de Luanda

segunda-feira, 22 de setembro de 2008

Músicas

Sabem do que mais gosto aqui de Angola? É da riqueza das letras angolanas. Quem conhece músicas como a "Ngaxi", "O meu patrão", "Ti paciência", "Pequena" e "Tem mulher que bate no homem" sabe do que falo. Para os que não sabem deixo aqui pequenas sinopses do que tratam as músicas e excertos das letras já que ainda não sei puxar sons para aqui (entretanto aceito aulas):

Ngaxi: Esta música é tocada pelo cantor Cristo e trata a história de uma rapariga que ganha um concurso de beleza, vai para Portugal e depois de andar na alta roda da moda volta a Angola onde finge não conhecer os vizinhos e nem os amigos.
O refrão é:
Ngaxi, ngaxi uacodiua (esta é a pronúncia da palavra não sei é se é assim que se escreve) Chaparia por fora está bala
Mas motor está a babar olho (Oleo)
(aqui qq palavra que tenha um i ou e a seguir a um L é lida como se tivesse "lh" tipo familha (em vez de família), até dois mil e oito já ouvi dois milhoito.

O meu patrão: Esta música é cantada pela Ary com auxílio do Yuri da cunha. Uma mulher casada é aumentada no emprego e o marido desconfia, mas como ele está desempregado tem de ficar calado e comer ou então bazar. Aliás ele passa mesmo a ter a certeza do que se passa entre a mulher e o patrão e diz "se deixar esta dama e arranjar outra m'boa, vai ser sempre a mesma coisa..."
Refrão:
Não pergunta muito se não queres
Aproveita a onda se não queres
Vou deixar sair
Vou deixar sumir
Você em casa não estás a contribuir
Tradução: Olha é assim: Tens dinheiro, tens a casa recheada, se quiseres ir podes ir andando, porque não tens posto nada em casa o melhor é aproveitares.

Ti Paciência: Cantada pelo musico Maya Cool, o rei das músicas sobre os verdadeiros problemas da sociedade angolana com todos os condimentos e diálogos apropriados à situação musicada.
O Ti Paciência é um kota que casou com uma segunda mulher depois da primeira ter fugido com um tipo, só que esta é uma maluca pois "onde ela saiu foi a rainha da noite, mamãe kadilé tá a dizer que é pouca sorte" e o problema é que o homem até podia "deixar a dama que tem, pegava uma catorzinha mas a idade que não perdoa". O maior problema é que "toda a gente lá do bairro quer saber quem é o marido dessa senhora: Quem é o marido dela? Eu não conheço Uéh, Quem é o marido dela? Nunca le vi uéh".
Refrão: "Ti Paciência, tem paciência"

Pequena: Outra pérola de Maya Cool, esta tinha que vos escrever a letra toda deixo só o início e o refrão.
Hum tava na cubico ué
a relaxar com uma bitola
com toda a familha
como mandam os costumes da banda
de repente éh
celular toca a mulher foi atenderéh
uma mensagem: querido quero te veréh
(em fundo ouve-se: problema, problema!)
Panelas no ar, mulher está a chinguilar
(ouve-se no fundo: Maaaakaaaaa!)

Refrão:
te juro não tenho nada com ela filha
só lhe dei boleia ficou com o meu contacto

Ok com a música teria mais piada, vou ver se consigo pôr som aqui.

domingo, 21 de setembro de 2008

O vencedor

Já agora o MPLA ganhou. Temos um partido único ou quase....

Mais um post sem nexo

Hoje foi um dia que me apeteceu mudar. Bem, nem sei porque estou a partilhar isto com vocês, nem mesmo neste blog, que é suposto ser informativo e de piadolas ou confissões desesperadas de quem vive em África. Neste caso não se trata nada disso. Eu estava simplesmente a olhar para o meu armário e com vontade de arrumar tudo, sem contar nada a ninguém, e fugir. Quando dei por mim estava a pensar como poderia sair disto sem que ninguém me apanhasse, já tinha um esquema montado, confesso que um pouco surreal. Não consegui fugir nem colocar uma única peça dentro da mala...
Nada está errado, nada mudou apenas e citando um filme que vi na TV (que não faço ideia alguma do nome) "I just dont feel anymore". Será?

domingo, 14 de setembro de 2008

Tempo de Heróis

Vem aí o Dia do Herói Nacional, trata-se de um feriado que rende homenagem ao pai da Angola independente. Agostinho Neto, o Poeta Presidente, diz quem o conheceu que tinha o dom de unir o povo em torno do ideal de uma Angola independente e sem guerra.
Neste momento imagino os tempos de guerra em Angola, após a debandada portuguesa, penso nos militares angolanos das FAPLA, que pouco mais que um treino básico tinham. Penso em todos os angolanos, que mesmo tendo nascido como portugueses, lutaram por uma Angola livre. Para eles era bem mais fácil regressar, teria sido mais fácil abandonar tudo do que ver o fruto do seu trabalho ser destruído, teria sido muito mais fácil ir para o conforto mesmo de um país estagnado (Portugal) do que continuarem a ser perseguidos. Mas muitos ficaram e abraçaram a luta armada contra os invasores estrangeiros.
Não sei como as coisas chegaram ao ponto de uma guerra civil. Eu entendo a guerra pela independência, não entendo a guerra civil. Este período veio dar razão aos fascistas que diziam que Angola não seria nada sem eles, e de facto durante muito tempo esse parecia o destino.
É fácil apaixonarmo-nos pelo "fado" angolano, talvez por, há coisa de 15 dias, ter sido escrita a sua última estrofe, e ter sido feito um último exorcismo.

Escrevo aqui alguma da História de Angola como se de uma sinopse de um filme se tratasse:
Angola um país que após conseguir a sua independência, vê no sonho de um homem (Agostinho Neto) o seu futuro. Uma nação de iguais, para iguais. Do outro lado, forças que pretendem o controlo da nação pela guerra (UNITA e FNLA).
Mesmo dentro do partido do Poeta Presidente (MPLA), houve problemas sérios que culminaram com o 27 de Maio de 1977. E muitos "filhos dos colonos", mesmo aqueles que lutaram contra o país dos seus pais, foram afastados da luta pela paz. Muitos abandonariam a sua pátria, para regressar à dos pais.
Após anos de guerra civil, a paz da nação é pendurada pelo resultado de umas eleições, o povo sai à rua e grita (por cruz) a sua decisão. Um dos derrotados (Savimbi líder da UNITA) não acata a voz da pátria e lança o país em mais uma guerra fratricida de 16 anos.
Savimbi morreu e o povo angolano largou as armas, largou a guerrilha, uniu-se em torno da paz. Um Governo de Unidade Nacional foi criado e forças que outrora lutaram no campo da batalha constroem um país a partir dos escombros deixados pelas três décadas de guerra. Em seis anos o país cresce, de 2002 a 2008, como nenhum cresceu durante esse tempo. E finalmente o povo sai à rua e grita (por voto) a sua escolha. Os que sempre protegeram a população são legitimados e os outros perdem. Final feliz.

Para ser completamente verdadeiro, peço que esqueçam os rumores ou realidades de corrupção, peço que esqueçam a mágoa que tenham por terem abandonado este país sob a ameaça da guerra ou de uma perseguição por serem brancos e como tal "colonos, fascistas e invasores". Eu sei que é difícil, pois algumas das pessoas que aqui estão no poder, terão sido as mesmas que espalharam terror na aparente calmaria do "império português". Mas esses não são mais do que aquilo que os exércitos de Afonso Henriques foram para os espanhóis e para os mouros, com a vantagem de que realmente estes de cá lutaram pela sua terra.
Concentrem-se apenas na história de um país que ainda sabe o que são heróis, que ainda os homenageiam, que ainda pode falar com eles ou mesmo falar com quem os conheceu de perto. É esta a fibra deste país, todos foram heróis pelo que aguentaram de guerra e de fome. Em Portugal os heróis são escorraçados para o desemprego e existem na penumbra dos Média, os heróis sobrevivem em surdina na miséria de um cheque da segurança social e são escondidos e maquilhados pelas iniciativas governamentais contra a pobreza.
Já não há heróis portugueses, mas os angolanos ainda o continuarão a ser até caírem na armadilha do conforto de uma paz sem luta de ideias, como Portugal caiu.
Cá, este tempo é o de celebrar os heróis de Angola e sobretudo o seu maior, o Poeta Presidente, Agostinho Neto, ou como alguém disse: "Na próxima quarta-feira decorre mais um aniversário de Agostinho Neto, aquele que, depois de derrotar os invasores estrangeiros e libertar a pátria, apenas reclamou dos seus pares o direito de ouvir a chuva e ouvir os silvos do vento. Nesta tristeza à média luz, sobra a alegria de, finalmente, o MPLA ter passado pelo teste de eleições, sem ameaças. Parabéns, Camarada Presidente”. In Jornal da Angola, Crónica à Média Luz, de Artur Queiroz.

segunda-feira, 8 de setembro de 2008

Os dias após as eleições de Angola

No dia 6 de Setembro as Assembleias reabriram e tudo correu dentro da normalidade. Às 19h terminou o escrutínio. Sem confusões nem violência, aliás a polícia espalhada pela cidade actuava com eficácia quando algum conflito ameaçava emergir.

No dia 7 de Setembro algumas previsões já apontavam para que o MPLA fosse o grande vencedor. Apesar de Samakuva ter entreguem o pedido à CNE para a impugnação das eleições. Mas, a resposta a este pedido só se saberia no dia 8, segunda-feira.

No dia 8 de Setembro a CNE rejeita o pedido do líder da UNITA e legitima as eleições que decorreram no dia 5. Luisa Morgantini, chefe dos Observadores da UE, dá uma conferência de imprensa para apresentar os primeiros dados. Refere que as eleições correram bem, que houve situações que atrapalharam o processo eleitoral, como os atrasos de entrega dos cadernos eleitorais e outras situações pontuais e que dentro de dois meses, no relatório final, serão divulgadas. Quando os jornalistas lhe perguntaram se achava que as eleições tinham decorrido de forma transparente e justa, a resposta foi apenas: Não se pode responder tão incisivamente, tem de se analisar caso a caso. No entanto, mostra-se satisfeita com o processo e congratula o Governo de Angola por ter dado este passo para a Democracia do país.
Entretanto, o MPLA no final deste dia lidera com 81,62 % dos votos.

As eleições em Angola


No dia 5 de Setembro de 2008 realizaram-se as eleições de Angola, as primeiras em 16 anos.


Às 07h da manhã, em Luanda, a cidade estava já preparada para começar o grande dia de votações. Nas ruas podia-se andar à vontade, no entanto as filas nas Assembleias de voto espalhadas pela cidade já eram visíveis. A população estava sôfrega por votar e quis participar deste acto o mais rapidamente possível.
Na cidade alta, onde se situa o palácio presidencial, estava tudo a postos para receber na Assembleia de voto Nº 0401070 o Presidente da República de Angola, José Eduardo dos Santos. Ás 08:35 o chefe de Estado chegou com a sua esposa, Ana Paula dos Santos.
José Eduardo não prestou nenhuma declaração aos jornalistas apenas fê-lo através da TPA, e disse que no início das votações estava tudo a correr bem.“ Há tolerância, respeito pelas opiniões dos outros e um ambiente muito fraternal, apesar das disputas e das trocas de ideias pontuais, ou até de insultos e críticas”, indicou à cadeia de televisão pública de Angola. “Mas é um ambiente são. Os angolanos tiveram um comportamento exemplar. De uma maneira geral, o civismo dominou”, sublinhou o Presidente.
“Se as coisas continuarem assim, até ao encerramento das urnas e à apresentação dos resultados, seremos um grande exemplo para o mundo” acrescentou.
Entretanto, ecoavam as primeiras declarações dos observadores da União Europeia que consideraram, a primeira Assembleia que visitaram, a de Cacuaco, como desorganizada. Declarou a eurodeputada Luisa Morgantini, a chefe da delegação europeia, citando a falta de cadernos eleitorais em alguns locais de voto e outras falhas de organização.
Às 10h chegou a vez do Líder da Oposição UNITA votar, Isaías Samakuva exerceu a sua escolha na Administração da Comuna da Maianga. Quando abordado pelos meios de comunicação referiu que o processo está a decorrer com uma enorme confusão chegando mesmo a afirmar que está a ser “um completo desastre”. Para além disso, afirmou que “há muitas Assembleias de voto que não estão a funcionar, faltam cadernos eleitorais, algumas não estão sequer instaladas, delegados de lista foram rejeitados, alguns receberam credenciais falsas, com números de código de Assembleias que não existem” e no que respeita à credibilidade do processo Samakuva rematou dizendo “se as coisas continuarem assim, a votação é inaceitável”.
O porta-voz da Comissão Nacional de eleições de Angola, Adão de Almeida, mediante os atrasos na abertura de algumas Assembleias de voto referiu que “houve alguns problemas e atrasos” mas garantiu que todos os cidadãos terão oportunidade de votar.
Por volta das 10H:30 na escola Alexandre Armindo, o líder da FNLA, Ngola Kabangu votou. Nas suas declarações referiu que “apesar de tudo acredito no processo. Admito que estava tudo desorganização e atrasado. Estamos a registar os pontos negativos mas, tudo faremos para gerir de uma forma pacífica. No entanto, há uma condição, que tudo se faça com transparência”.
Nas ruas, numa ronda nas Assembleias de voto nas zonas mais centrais e populares da cidade de Luanda, ouvia-se várias versões. Na Assembleia de voto nº52 na ilha, o eleitor Pedro disse estar “há mais de 3horas à espera pelos boletins”, por outro lado na Assembleia no largo do Balizão, Francisco apelou à calma dos votantes. “ Estou aqui também à espera. Esta é a primeira vez é normal que as coisas estejam um pouco complicadas. Vamos ter calma”. No largo Serpa Pinto, na Assembleia nº 24, onde havia boletins suficientes por volta das 13h, Rui dos santos, referiu que, “ já consegui votar, mas andei às voltas até encontrar um sítio onde houvesse boletins. Mas, apesar de tudo, acho que está pacífico e a segurança está assegurada”.
No largo do Kinaxixe, que apenas arrancou depois da 10h as coisas estavam mais difíceis. Na Maianga as coisas correram bem, quase todas as mesas cumpriram. A Sagrada Família teve um início normal mas, após as 12h já não havia boletins e até às 16h ainda continuava tudo parado. Na Mutamba, mais propriamente na Escola, as coisas arrancaram com normalidade, no entanto por volta do meio-dia os boletins acabaram também.
O líder do partido do galo negro, Samakuva reuniu-se no final do escrutínio com o responsável da Comissão eleitoral, Caetano de Sousa e apelou para que hajam novas eleições, considerando que estas não foram normais.
No final do dia, após o encerramento das urnas, no Centro de Imprensa Aníbal de Melo houve uma reunião da CNE com o balanço do dia. Ficou concluído que no dia 6 de Setembro a votação iria continuar apenas nos locais que atrasaram ou que não arrancaram ou seja, em cerca de 320 Assembleias. Tal situação, apenas se iria dar em Luanda onde houve alguns problemas, no resto do país o processo eleitoral ficou concluído no dia 5 de Setembro.
Resta apontar que apesar dos vigentes atrasos o processo correu em segurança e a população aderiu com veemência às mesas. Este foi o primeiro passo para a Democracia.

quinta-feira, 4 de setembro de 2008

Amanhã é o Dia "D"


Propaganda do MPLA (Partido no poder). Bairro Vila Alice




No dia 5 as eleições vão acontecer aqui em Angola. Hoje a cidade está um caos toda a gente se prepara para o grande dia. Se esta cidade já tem trânsito nos dias normais, hoje "não vale a pena".

Por volta das 06h da manhã vou acordar para trabalhar. Irei dirigir-me às mesas de voto mais importantes e fazer entrevistas às pessoas comuns e também aos políticos ou outros...quem sabe?? Estarei a correr de um lado para outro, não esquecendo o centro Anibal de Mello, o sítio onde os jornalistas se vão reunir para saberem mais detalhes dos acontecimentos e quem sabe trocar algumas ideias....

Os observadores da União Europeia já andam aí e já se espelharam pelas províncias. Eu já tentei falar com uma das representantes dos observadores, a nossa tão famosa Ana Gomes, mas sem sucesso, quando cheguei ao Hotel Trópico, ela estava a entrar no carro. Bolas nem me deu uma declaração.........jornalista sofre. Não que ela tivesse culpa, mas a reunião que ia dar foi adiada mas o pessoal esqueceu-se de avisar alguns media.

Hoje, dia 4, preparo-me, não sei bem como, mas meto as pilhas no gravador, verifico mil vezes se não me esqueço do bloco e agendo com o fotografo. Está tudo a postos...ready, set, go!!!

Boa sorte Angola

quarta-feira, 3 de setembro de 2008

Como estão as ruas de Luanda




Aqui estão as bandeiras dos dois partidos principais, UNITA e MPLA. Assim se faz uma campanha.
Esta imagem é do largo Serpa Pinto, um dos principais de Luanda.

MPLA vs UNITA

Os angolanos têm dois grandes partidos que estiveram em guerra civil (esqueçam a FNLA que essa está moribunda). E o problema é que essa guerra terminou pela morte do líder do partido que a fez contra as forças governamentais da altura (de 1992 a 2002). É quase a mesma coisa que se na Alemanha, após a 2ª Grande Guerra, o partido nazi continuasse a concorrer às eleições. Um partido que levou um país inteiro para guerra com outras nações, com o suposto apoio da população, não conseguiu sequer continuar legal após a derrota. Como se espera que um partido, a UNITA, que lutou pela soberania de Angola entre 1975 e 1992, e que depois, descontente com os mais de 17 anos de guerra, partiu para conflito novamente quando a população acreditava na paz.
Se calhar temos que ver isto à escala dos angolanos, e não à nossa: Por causa da UNITA, Angola perdeu 10 anos ( não conto com os 17 de guerra pela soberania, porque aí o povo ainda não tinha sido ouvido).
Agora se o MPLA, que representa a maioria deste Governo, se tem tido uma governação justa... Isso já é outra conversa. Mas numa coisa acredito, a UNITA não vai conseguir sair do estigma de um partido que fomentou uma guerra sem apoio popular, ou pelo menos terá um apoio muito diminuto.

Ainda antes das eleições

Meus caros

As eleições estão aí à porta o ambiente ainda é calmo. Quer dizer nota-se nas pessoas alguma agitação, ansiedade, não sei bem se porque vão votar, se pelo simples facto, de na quinta ser dia de reflexão (logo ninguém trabalha) e sexta o dia “D” (logo ninguém trabalha) ou mesmo porque está a chegar o dia das 3/50. E perguntam os leitores o que é o dia das 3/ 50? Na sexta-feira, diz-se por aí, que um certo partido cede 3 cervejas a 50 kwanzas (cerca de 50 cêntimos), logo é o dia da bebedeira.
Seja qual for a resposta o certo é que começa haver movimentação, as eleições são uma coisa única que há 16 anos não existia. Ninguém sabe o que vai acontecer, mas toda a gente dá palpites….

Para os que não sabem lá vai um pouco de História política de Angola, coisa pouca mas já dá para perceber:
As últimas eleições deram-se em 1992. Estas levaram a conflitos aquando o principal partido de oposição, UNITA, rejeitou os resultados alegando que estes eram fraudulentos e afirmando que MPLA (Partido no poder) sabotou. Aí começou a Guerra Civil que só terminou em 2002 com a morte de Savimbi.
Agora estão a concorrer dez partidos políticos e quatro coligações, num total de 5.198 candidatos. Estão inscritos para votar cerca de 8,3 milhões de eleitores em 12400 assembleias de voto. Estão em disputa 220 lugares na Assembleia Nacional de Angola para um mandato de quatro anos. Em 2009 estão previstas as eleições presidenciais.

Bom, com esta pequena retrospectiva, é fácil entender que Angola vive uma reminiscência. Toda a gente sabe que nada vai acontecer, mas se perguntarmos a alguém na rua que viveu a guerra, ela diz que está confiante, mas não quer nem pensar em viver um conflito. Por isso acrescenta “ é melhor ficarem os que já lá estão, pode ser que assim acabem o que começaram a fazer”.
Muitos podem pensar isso é medo, isso é ditadura….. Enfim. Mas só aqui e percebendo como é África como a politica funciona e como temos de deixar as nossas convicções, é que entendemos que não é porque nós vivemos no nosso mundo “pseudo livre” que Angola vai passar a agir como nós. Esquece.

Nas ruas os jovens, agora desocupados, bebem e festejam e gritam pelo partido que lhes oferece t-shirts. Os confrontos que possam existir estão na base destas festanças, que entre bebidas sai um ferido. É certo que o presidente mandou aumentar o policiamento, que os assaltos diminuíram, mas………………… Angola está mais segura??? Não sei.

segunda-feira, 25 de agosto de 2008

Apenas uns dias antes

Caros leitores mudos

Todos vocês se questionam ou questionam-me à cerca das eleições em Angola. "Não será perigoso?", "e se isso acaba lá como no zimbabué?", "África é África. Não devias estar aí.Porque não regressas?", " e se há uma revolta do partido que perde?". A todas estas questões eu não tenho uma única resposta. Posso dissertar sobre o que penso e sinto por estas bandas, mas não sei se vão entender ou vão, quem sabe, achar que se vai tratar de um pequeno diário lamechas de uma menina de colégio que resolveu ir para Angola. Será??
Antes de começar....... Eu não faço a minima ideia porque ainda cá estou. Querem vocês ver que afinal até gosto desta terra ou mesmo tempo que sei que ela me suga as minhas últimas energias catarses? Amor e ódio, qual romance shakspeariano ou alminhas de Dante...........É África não é ficção.

terça-feira, 5 de agosto de 2008

Nunca se sabe quando pode chegar o frio a África...


Olá meus caros leitores

Cá estou eu de regresso a este Continente que descobri ser bastante frio. Sim!!!! Frio.

Pois é. Mal acabo de chegar os amigos, saudosos, ofereceram um café (sim porque jantar é caro) e entre conversas e palhaçadas um camarada conta a seguinte história:

Vocês nem imaginam estavam os trabalhadores da minha empresa, a pedido de alguém lá de cima, a arrumar umas máquinas de trabalho vendidas pelos russos a Angola, quando de repente deparam-se sabem com o quê???

e nós: NÃO

com umas máquinas para limpar neve

e nós: Limpar neve em Angola

Sim meus caros... os senhores da Rússia convenceram alguém de cá a comprar limpa neves carissismos.

Bom, digo eu, nunca se sabe quando em África pode fazer um frio de rachar...

De volta a kaluanda

Eu tinha razão e o Variações é o maior. Agora estou aqui e tenho tanta vontade de estar aqui como de um tiro na cabeça.
Será que sou daquele tipo de pessoas que gosta da adversidade e de a superar para mostrar algo a si próprio. Acho que sim...
Por muito que as partes boas daqui sejam de descontracção, as más são de extrema resignação. Vens para mudar mas és barrado pela mentalidade instituída, e depois adormeces e cais nas práticas deles.
Aqui o "deixa andar" é bem pior. Aqui o "logo se vê" dita o destino. Aqui o "não tem maka" é lei.
Acreditem que isto de que vos falo está directamente relacionado com o que faço, pois outras pessoas fazem outras coisas e sofrem com isto, mas não adormecem.
Dizem vocês então muda, ao que eu respondo: Para onde?
Vocês: Tanto sítio, nem precisavas de sair de casa.
Eu: Desculpem mas gosto de ver se a relva da vizinha é mais verde que a minha.

Faz três dias desde que cheguei e esta cidade está igual, um pouco mais caótica com mais obras (como se isso fosse possível) e com a campanha eleitoral a assustar o ocidental mais incauto.
São os autocarros e os kandongueiros cheios de malta a sair das janelas, em tronco nu e a bater na chapa das viaturas, ou simplesmente grupos de gente a pé, a cantarem não se sabe bem o quê com um tom bastante efusivo. Assusta porque nos faz lembrar outros cenários que descambaram em guerra. Mas aqui dizem-nos que isso é impossível.
Esperemos que sim... Pelo sim pelo não, vou encomendar o meu colete a dizer PRESS...

sábado, 12 de julho de 2008

Home is where the heart is

Depois de muito tempo sem escrever nada eis que me apeteceu voltar aqui, a este lugar L.
Quando iniciei este blog, a minha ideia era desabafar a minha má adaptação a Luanda, era descarregar as frustações do dia-a-dia angolano, era, no fundo, mostrar que as saudades de outro lugar L (Lisboa) eram ainda mais fortes, exactamente por estar em Luanda.
Pensava e sentia eu que jamais me adaptaria ao caos luandino (ou luandense), mas verifico agora que estou redondamente enganado.
Estou no lugar L que me viu nascer (Lisboa), no lugar onde fiz amigos de infância, onde fiz e terminei amores, onde passeei a pé e de carro e de transportes, e onde me apaixonei por uma cidade. Lamento, mas aquilo que eu tinha como adquirido (o meu amor incondicional por Lisboa e o meu desgosto de viver a 9000 km daqui) foi alterado para um estado desconfortável (aquele estado que o Variações cantava).
Cheguei a Luanda com o espírito de emigrante português impregnado no cérebro, aquele saudosismo que nos leva a Portugal perante qualquer imagem, perante qualquer som familiar. E acabei por sair de Luanda com vontade de dar um saltinho a Lisboa, banhar-me na civilização de cá, ver entes queridos (os quais não visitava muitas vezes quando vivia cá), mas ir logo a correr para a selva luandina e para o paraíso angolano da terra infindável.
Agora não sei quando ou se volto (fruto da chamada competência angolana), mas também sinto que já não sei onde é a minha casa.
Amigos angolanos! Acreditem quero voltar.
Amor! Tu mais tarde ou mais cedo irias para lá.
Família! Já era tempo de sair da toca.
Estas três últimas frases eram o meu lema quando eu tinha a certeza que voltaria, agora esse lema mudou...

terça-feira, 6 de maio de 2008

Onde estão os erros? Epa não encontro...

Estas são as placas, ou das muitas, que se encontram pelas ruas angolanas.

E esta hein???




sábado, 26 de abril de 2008

Noites quentes do Verão português

"Grândola vila morena
Terra da fraternidade
O povo é quem mais ordena
Dentro de ti ó cidade"

Foi ao som de Zeca Afonso, uma sentida homenagem para este grande homem, que, a escassos 10 minutos da meia-noite do dia 25 de Abril, eu e um amigo entrámos na descida da estrada do Lobito.
Por estúpido que pareça até me senti arrepiado, como se estivesse a sentir que o dia da Revolução dos Cravos fosse um dos principais responsáveis por podermos estar ali.
Claro que eu não consigo imaginar o terror de quem teve de sair deste país à força e de abandonar as suas vidas e amigos. Algo que o 25 de Abril também precipitou.
Digamos que foi um sentimento de algum orgulho por ser português, daqueles que se sentem, por exemplo, quando ouves o hino antes de uma eliminatória numa fase final de qualquer Campeonato Mundial ou Europeu de futebol.
Lá continuámos a ouvir sons da nossa terra (em angolano é banda), umas musiquinhas do Saúl outras do Dino Meira (obrigado ao Ipod do Tozé por ter um leque variado de sons). Mais uns sons pimba e a minha mente já viajava para as sardinhadas do Santo António, das noites quentes de Lisboa ao som das bandas populares. Das noites animadas das santas terrinhas do interior, dos melos e dos curtes que a malta dava quando era pito às pitas das territas.
Dos gajos a conduzirem Renault 5, de bandeira axadrezada pintada no capôt, como se fosse um verdadeiro Subaru WRX. Dos bêbados a serem colhidos por touros nas arenas improvisadas no meio das vilas. E sobretudo do convívio com os amigos nessas alturas.
Foi só um pouco de saudades que uma noite quente, mas mais fresca do que é habitual aqui, nos cria. Ah! Já quase que me esquecia do que sinto também muita falta... Da bela da bifana ou coirato (é assim que se diz na minha terra :)) numa mão, com a Mine (Sagres Mini para os mais ignorantes) a estalar na outra.

quinta-feira, 24 de abril de 2008

Luanda afinal até me kuia (até gosto)

Diálogo
Depois do jipe estacionado, sem ajuda nenhuma, eis que chega um puto e diz:
-Chefia! Estou aí a controlá. Ya...

Eu:
-Como te chamas? (resposta) ... Ya, controla só.

Palavras chave desta conversa, controla, ya e só. É assim que nos entendemos nas ruas de Luanda, com um discurso cheio de calão e com frases que envergonhariam qualquer chelame (natural de Chelas). Não sei se entenderam, mas ele basicamente disse-me: -Vá paga-me uma gasosa que é para quando voltares, não teres os pneus furados. E eu respondi: -Estou-te a identificar que é para depois te marcar, e sim dou-te uma gasosa (grojeta).

Especialista de mecânica
Queres arranjar qualquer coisa no carro. Segue para a Rapor, que se situa no meio da rua, num parque público, onde há um grupo de rapazes, vestidinhos com calcinha de ganga e t-shirt da moda, que fazem de tudo. Desde grampear vidros (é necessário grampear os espelhos, os piscas e os faróis para que não desapareçam), questões eléctricas (recomendo o puto Walter) e colocação de pequenos pormenores de embelezamento (o chamado xuning). Tudo se faz no meio da rua e por preços negociáveis. Aliás já vi um Cayenne e um Touareg ali a serem grampeados, portanto os putos devem de ser bons.

Fila conveniente
No trânsito infernal apenas uma coisa me agrada, os zungueiros (vendedores) que andam entre o espaço que os carros deixam na estrada (que por muitas vezes é pouco) a vender tudo. Precisei de uns cabos de bateria:
-Xé 2000 kwanza mô cota.
-Mas porquê, 1000 kz não é Kumbu?
-Nada mô cota. Esse é preço de igreja (de custo) . Vai por 1500 kz.
-Ok, tens troco de 2000 KZ.
-Espera aí mô cota. EH! Traz-me aí 500 kz... (enquanto vai a correr para trazer o troco, eu continuo a avançar na fila)
Negócio feito, lá vou avançando lentamente na fila com um calor tórrido. Sem ar-condicionado andar em Luanda simplesmente seria um inferno.

Elas são quentes
Nas discotecas elas andam com calções minúsculos e muito bem produzidas. Dançam tarraxinha (basicamente roçar o sexo um no outro mas de roupa vestida) e qualquer um pode dar um pézinho de dança.
Um amigo meu, já podre de bêbado, pegou numa negrinha alta para dançar. Ela não disse que não e tarraxou nele, entretanto o namorado olhava para os dois. Ela olhou para ele e parou de dançar. O meu amigo ficou assim meio espantado e foi a trás:
-Ensina só. (disse ele)
-Mas tá aqui o meu namorado. (disse ela)
-Não tem Maka, ensina só.
O namorado lá acenou que sim e, então, ficou o meu amigo a roçar-se na pobre da moça o resto da música.

Para entenderem que isto não é nada, vou-vos contar um pequeno diálogo.
Um amigo tuga depois de dançar com uma moça a noite inteira, virou-se e disse:
-Queres ir dar uma volta? (perguntou ele timidamente)
-Porquê. Não tens casa? (disse ela em tom intrigado)

terça-feira, 22 de abril de 2008

E cá vão algumas fotos


A baia de Luanda


A vista sobre a cidade


As sucatas são lindas e bem arrumadinhas


E este pôr do sol hein?


Grande praia e grande qualidade de vida

Assaltar com requinte


Esta foto não tem absolutamente nada haver com o tema mas apeteceu-me. É o belo do engarrafamento

Prezados leitores

Antes demais peço desculpa pelo atraso na actualização do blog. Não tenho nenhum motivo, a não ser aquele óbvio... Estou sem tempo.

Tenho estado a pensar em temas. Existem vários como calculam. Que tal assaltos de primeira qualidade? E perguntam vocês assaltos de qualidade? mas existem? Sim, camaradas existem e posso-vos dar um belo exemplo.

Ora aqui vai:

No outro dia cheguei ao meu carro e não tinha piscas, nada de estranhar. O que me disseram foi: Não estacionasses aí.
Ora bolas (pensei eu) então onde deveria estacionar? (perguntei)
resposta: Em lado nenhum, aqui tiveste sorte de não te roubarem mais coisas...
ok, para boas perguntas, excelentes respostas.

Este ainda não era o assalto do ano... Esperem que já conto o melhor

Nesse dia fui almoçar com uns amigos e depois de anunciar a minha história um deles contou o seguinte:

Ah fizeram-te isso? (disse) olha a mim foi pior. Estacionei o carro e demorei cerca de dez minutos, quando voltei o meu carro estava com os quatro piscas ligados. Achei estranho e quando me aproximei abri o carro normalmente, não tinha sinais de arrombamento nem nada, e vi que não tinha o rádio, e para além disso, tinha um bilhete que dizia: Para a próxima tem mais cuidado...... EHEHEHEHEH

Isto é nível... merecia um prémio.

quarta-feira, 26 de março de 2008

No Bob's

Estava eu no Bob's Burguers (uma cadeia fast-food de hambúrgueres) a comer o meu hambúrguerzinho quando olho para o lado e vejo um pai a tirar uma foto ao filho de 7 anos (mais ou menos) em frente ao balcão de atendimento.
E pensei para comigo: -Estes angolanos pá! Ou é fotos de casamento no Belas Shopping ou visitas de estudo ao Bob's.
Mas lá continuei a comer o meu trio (menu: batata, hambúrguer e bebida), quando sou interrompido.
-Pode tirar uma fotografia? (diz o Sr. a apontar para o filho)
Levanto-me prontamente e digo:
-Sim claro, juntem-se um pouco mais.
Mas sou interrompido:
-Primeiro tire você com o meu filho.
Eu sorri e disse que sim, coloquei a criança ao meu lado e meti o meu sorriso Pepsodent. Depois de duas fotos tiradas com um miúdo que eu não conheço de lado nenhum, o pai senta-se no meu lugar e é a minha vez de ser fotógrafo. Tirei duas também a pedido do pai, com uma máquina de rolo, agradeceu-me e foi-se embora para continuar a sessão fotográfica mais a criança, com os posters da cadeia de fast-food como cenário.
Fiquei a pensar neste encontro. Para já, acho que eles não compraram nada. Ainda pensei em pagar um menu ao puto, mas fiquei na dúvida. Pode parecer assim um pouco de discriminação mas eles até estavam bem vestidos, limpinhos e com roupas em bom estado. O pai podia levar essa minha atitude a mal.
Depois ainda pensei que o filho tivesse pedido ao pai, para tirar uma foto com o branco mais bonito dali. :) :)
Este encontro fez-me alguma confusão pois não sei qual foi o raciocínio do pai:
-Hoje vou dar um passeio com o meu candengue (filho pequeno). Já sei, ché vou no Bob!
Ou então, e quando penso nisto fico triste, o pai chegou da província com o filho e acharam aquilo diferente e foram lá passear. Como o recinto tem uma zona para as crianças brincarem, o miúdo ficou todo entusiasmado e o pai fez-lhe a vontade. Ir ali custou dinheiro em táxis e combustível, e já não houve para o hambúrguer, mas da criança eu não ouvi um pio. Nem choro do estilo "pai quero aquilo", nem nada, o que dá uma pequena lição aos putos obesos e sebosos que encontramos pelos Mcdonalds de Portugal a fora.
Disse que fiquei triste, porque não me custava nada ter pago um menu à criança, pelo menos, se eu soubesse que eles não tinham dinheiro e queriam comer.

sexta-feira, 14 de março de 2008

Responsabilidade e segurança. Cada um tem a que merece

Meus caros

Para quem está interessado fiz o controlo da Malária e deu negativo. Estou livre da maleita.

Bom, mas este assunto está completamente ultrapassado.Passemos a outro tópico.

Estar em Angola no início estava a ser complicado, para além de tudo não estávamos a fazer nada no trabalho. Olhávamos as paredes e contávamos os mosquitos...Era chato. Agora, nem tempo temos para respirar. Os jornais aqui dão trabalho (enfim, dão em toda a parte do globo). Temos de ver tudo e controlar tudo, não é fácil porque as coisas dependem de nós. A responsabilidade é acrescida. Mas será isso bom?

Quando era pequena refilava porque os meus pais mandavam em mim e eu não podia ter as minhas próprias decisões. Agora tenho tanta liberdade de escolha, onde a responsabilidade vem acrescida, que não sei se gosto.

No entanto, levo na cabeça por chegar tarde a casa. Eu explico: Não posso andar sozinha de carro à noite em Angola e como eu sou louca ando. Toda a gente me diz "tás maluca ou quê? Aqui não é Lisboa rapariga", por isso agora quando chega às 22h alguém tem de me acompanhar.... Enfim, uma pessoa em Portugal já vive sozinha, já tem carro e não dá satisfações e aqui toda a gente te vigia. Compreendo que é para o meu bem, mas bolas....

Tal como dizia um amigo meu daqui, "pensa que estás na cova da moura, por isso não podes andar por aí à solta sozinha". "Bolas", digo eu, "cova da moura é que não".

Para ser sincera Angola tem os seus perigos, mas calma... Durante o dia ando à vontade e se tiver no centro da cidade à noite também posso andar. Pessoal lembrem-se que o país esteve em guerra, as coisas vão aos poucos. A segurança ainda não é perfeita, mas está muito melhor.

Pergunto-vos eu, Portugal é seguro?

segunda-feira, 10 de março de 2008

Estou assim

Estar longe de casa, das pessoas que amo e do meu quotidiano, tem-me feito crescer enquanto pessoa. Agora, mais do que que nunca, acredito que nós contamos connosco para sermos tudo o que nos seja possível ser na vida. Tudo bem, há factores, como a sorte, que podem condicionar esse percurso, mas já que as oportunidades podem, ou não, aparecer, agárra-las já é uma questão da tua vontade.
Esta é apenas mais uma etapa na minha vida, seja boa ou má, posso contá-la mais tarde. Posso pegar no meu gosto pela escrita e transformá-la, ficciona-lá, sei lá romanceá-la.
Sim. Eu vivo para poder ter experiências para contar. Claro que quero construir algo na minha vida, mas sou, ou pelo menos aspiro a ser, um contador de estórias. Sem experiência de vida não tenho nada para contar, sem viver realidades diferentes não tenho nada para comparar.
Peço a todos, os que esperam e desesperam por mim, para terem calma. Eu hei de regressar mais contente com a vida simples, mais motivado com o quotidiano do pára e arranca das filas de trânsito na minha cidade natal. Mas também vos peço deixem-me viver, deixem-me experimentar, não me julguem.
Há muito tempo, noutro blog de outra vida, escrevi "Esta rotina está a dar cabo de mim, a rotina de ser quem sou." Em relação a esta frase alguém comentou:

"Sei o que sentes. Sabes o que é a velocidade de escape? É a velocidade que um corpo tem que atingir para escapar ao centro gravitacional que o amarra a outro. 800km/segundo para o foguetão que quer sair da Terra. E para nós?... Um dia gostava de encontrar a minha. Mas não sei se sou muito boa a equações... E tu?"

Actualmente acho que nós precisamos é de "travões de escape". Se tudo for sempre igual, dia após dia, se as pessoas que conhecemos forem sempre as mesmas, se os sítios por onde passamos forem sempre iguais, mais tarde ou mais cedo escapamo-nos do nosso sentido de viver (velocidade de escape). Adormecemos, estagnamos e pior do que tudo acomodamo-nos ao que temos e deixamos de lhe dar o devido valor e é como se nos desligássemos da nossa vida a uma velocidade incrível.
Aqui, neste lugar L, eu estou a encontrar os meus travões, estou a encontrar argumentos para discutir comigo próprio quando noutras alturas me sentia estagnado. A falta que me faz a normalidade daí, aqui neste lugar L. Mas sem este lugar L, dificilmente sentiria este sentimento.

"Pearls and swine bereft of me
Long and weary my road has been
I was lost in the cities
Alone in the hills
No sorrow or pity for leaving I feel
Friends and liards don't wait for me
I'll get on all by myself
I put millions of miles
Under my heels
And still too close I feel"

sexta-feira, 7 de março de 2008

Um fim de tarde bem passado

Na TPA (Televisão Pública de Angola) começaram a transmitir a Floribella e os Morangos com Açúcar (primeira série).
Como devem de imaginar, os putos andam malucos com isto, e é só vê-los no programa de televisão (Carrossel), apresentado por uma criança de 11 ou 12 anos, a cantar, com sotaque angolano, o “Não tenho Nada” da Floribella, ou lá como se chama a música.
No que toca aos Morangos com Açúcar, os adultos são os principais espectadores da série. Por exemplo no Centro Comercial Belas Shopping é normal, a partir das 17 horas, os homens que saíram do trabalho, principalmente das obras, ainda vestidos de fato-macaco, com capacete e tudo, passarem pela montra da Sistec (a Electro Sacavém cá de Luanda) e pararem, “em grupos de muitos”, a assistir às telenovelas que são transmitidas nas televisões que estão em exposição.
É ver estes homens de barba rija, a comentarem entre eles os casos da telenovela, e a mostrarem-se visivelmente perturbados com o desenrolar dos acontecimentos do programa.

Exclamações como:
-Txi!! Esta dama é lixada!
Ou:
-Mas como é possível, ché não faz isso!
E ainda, em uníssono:
-Uooh! Ele foi apanhado, mereceu!

Pois é meus amigos, divirto-me muito mais a assistir a estas reacções do que a passear pelo Shopping a ver as montras, só tenho pena é de ainda não ter tirado umas fotos.
Ah! Já me esquecia. No cinema também é normal o pessoal que vai assistir aos filmes, levantar-se da cadeira excitado por uma reacção qualquer do protagonista. Ou ouvir o seguinte comentário, passado com uns amigos meus no filme A Invasão (ou lá como se chama aquele da Nicole Kidman e com extra-terrestres):

-Txii esta dama é memo burra, ainda ontem entrou nessa casa e passou mal (esteve em apuros)!

terça-feira, 4 de março de 2008

Normal, tudo normal

- Então Tiago estás bom?
- Eu estou, a Rita é que não. Apanhou malária
- Eh pá! Mas foi ao médico?
- Sim foi. Ia ficando surda por causa da medicação mas mudou-a (porque eu por acaso fiz uma amigo que é o melhor médico deste país, quando estive cá em 2005, que a viu) e pronto já está melhor.
- Então mas os médicos não lhe fizeram análises?
- Sim fizeram, mas estavam mais interessados em interná-la para sacar dinheiro à nossa empresa do que em tratá-la.
- Esses africanos pá. Tchi são mesmo uma loucura!
-Não pá. Este clínica privada é gerida por cubanos e brasileiros. Sabes aquele mito de que os cubanos têm um bom sistema de saúde? Pelos vistos os que vêm trabalhar para Angola nem são muito bons. Mas olha é assim a vida.
- Mas oh Tiago não pareces preocupado?
- Então já viste se eu me preocupasse com coisas pequenas. Tais como: ter um seguro de saúde decente, que afinal este é uma merda, pagarem-me a tempo e horas, ter dinheiro para beber um café pelo menos, ter telemóvel com saldo, fazer menos de uma hora e meia de trânsito para chegar ao trabalho. Se eu me preocupasse com estes promenores já me tinha ido embora.
- Então e agora não tens medo de apanhar malária?
- Eu não. Aliás, nem que o meu figado rebente, vou tomar Mephaquin durante o tempo todo que aqui estiver.
- Espero que as coisas corram melhor daqui para a frente!
- Sim hão de correr. A sério, hei de continuar a não ter água nos escritórios, volta e meia há de faltar luz, quem resolve estes problemas não me há de atender o telefone nem ligar de volta. Mas eu estou tranquilo, aliás aqui isto é tudo normal.
Se os angolanos se preocupassem com estes promenores, coitados. A taxa de suicídio deste país disparava para 90 por cento. Assim, em vez de morrerem de suicídio, morrem de serem tratados em clinicas assustadoras por estrangeiros mal formados. Mas é normal, tudo muito normal.

segunda-feira, 3 de março de 2008

Até estar doente é normal (parteII)

Isto contado ninguém acredita.

Caros amigos continuo com malária, isso não é novidade, até porque já tinha no passado post. O que me levou a escrever este novo é um simples facto que deve ser acrescentado ao anterior:
A MEDICAÇÃO QUE ME DERAM PODIA TER-ME MATADO OU TIRADO COMPLETAMENTE A MINHA AUDIÇÃO.

Eu explico. No dia seguinte a ter escrito a vocês sobre a minha doença africana, senti-me mal, deixei de ouvir e tive taquicardia. Até aqui já é assustador. Fui a correr ter com um amigo que é doutor numa boa clinica daqui, que depois de analisar-me,faz o seguinte comentário: "PÁRA IMEDIATAMENTE COM A MEDICAÇÃO QUE TE DERAM, ELES SÃO DOIDOS OU QUÊ?!? QUEREM QUE FIQUES SURDA DE VEZ OU TE DÊ UMA COISA QUALQUER? COM QUININO 300MG(MEDICAÇÃO RECEITADA PELOS MALFEITORES) JÁ MUITA GENTE MORREU. ISSO JÁ NEM SE RECEITA A NINGUÉM....."

Sim camaradas estou melhor não se preocupem. Estou já longe de perigo.

Apenas queria partilhar com vocês o quanto tenho vontade de esganar aqueles filhos de uma grande pu..... que por acaso só me iam matando.

Como é bom estar em África..... Quer dizer eu até gosto (chamem-me de louca), mas a viver isto se calhar já não gosto tanto. Não me apetece voltar para casa num caixão.

Não há nada como ter bom humor.

sábado, 1 de março de 2008

Até estar doente é normal

Este post não está a ser escrito com muita alegria. Eu explico. Estou com malária.... Não é grave, não é contagioso e é normal nos países como Angola. Consiste numa indisposição, que para nós comuns europeus não passa de uma dorzita de barriga, que vai aumentando até aos vomitos e febres. Ok é nesta altura que o melhor é ir ao hospital. Foi o que fiz. O problema é que fiquei lá internada.
Colocaram-me numa maca e espetaram-me agulhas em todas as veias livres. "Bom", dizia eu, "mas eu só vim aqui por causa de uma dorzita de barriga, não é preciso isto tudo". Pois é meus caros foi preciso isso tudo e muito mais.
Fui levada de cadeira de rodas para o meu quarto, aí já achei que era demais, se calhar não estava mesmo bem ups, se calhar até era grave.
Ok recapitulando, eu estava num país africano, sem familia e numa cadeira de rodas.....PÂNICO.
Epá esta coisa de brincar aos repórteres desbravando caminhos insípidos foi giro, mas agora já não tem piada.
Depois de uma noite passada num hospital, que por sinal até não era mal, onde a língua que se falava era a do país de Fidel ou Raul (como queiram), lá consegui sair.
Levei comigo um saco cheio de comprimidos e uma palmadinha nas costas com a simpática melodia "é só malária é normal". É normal o caralh.....
Bom agora estou em casa, doente e doi-me o corpo.

Sinto-me como nos filmes onde o protagonista se encontra doente num país de terceiro mundo, quase a morrer e longe de todos...... mas o herói consegue sempre vencer e, por isso, salva-se. Enfim, isto já sou eu a delirar. Afinal "é só malária é normal".

segunda-feira, 18 de fevereiro de 2008

O regresso às origens


Leitores deste blog ou amigos que são diariamente obrigados a lê-lo




Sei que há muito que deveria ter escrito sobre a viagem (raid) que fizemos ao Lubango, mais propriamente ao Tchivinguiro ( não procurem no mapa porque acho que não aparece). O porquê desta viagem? É simples, aquela terra, que não existe no mapa, é onde estão as minhas raízes. A minha mãe nasceu lá e o meu avô foi um dos fundadores daquela região, que pelo seu clima pouco quente e até chuvoso, parece que estamos algures no alentejo (no Inverno) e não no sul Angola.


Sim, a minha família esteve lá na época da colonização mas, de colonos tinha pouco. O meu avô deixou marcas de carinho e respeito pelos cidadãos, nunca tratou ninguém com diferença. Esta afirmação fez com que me sucundissem umas lágrimazitas...Ok chorei como se não houvesse amanhã.


Bom, mas vamos lá começar. Cheguei ao Tchivinguiro, depois de uma viagem atribulada que o meu colega ja expôs. Procurei pelo antigo amigo da família, o xico. Lá indicaram-me onde morava. Por entre caminhos cheios de buracos lá demos com a sua cobata. Apressei-me a sair do carro e de repente "o mais velho" ou o "soba" veio na minha direcção. Para meu espanto esse senhor era mesmo o Xico. Reconheci-o porque tinha a sua foto, mas ele nem fazia ideia quem eu era. Pensava simplesmente que era mais uma "pula" (branca).



Quando disse o meu apelido e de quem era neta a emoção começou, parecia uma cena daquele antigo programa "ponto de encontro", digna de choro, posso mesmo dizer que os meus amigos também verteram as suas lágrimas.




Ele apresentou-me à família e, ao mesmo tempo ia apregoando, a quem quissesse ouvir, que eu era neta de uma grande senhor de quem ele jamais iria esquecer. Contou-me histórias da minha família, recordava-se de tudo. Bolas, um senhor de 80 anos com uma memória de elefante, eu tentei acompanhar e ouvir tudo para reter a informação toda.


Depois levou-me a passear pelo tchivinguiro. Conheci a escola de regentes agrícolas, onde o meu avô foi director, e no momento em que me indicou onde era a sala dele comecei novamente com o choro... Não consegui controlar, mas juro que tentei.


Logo a seguir fui ver a casa onde a minha família viveu e depois o sítio onde a minha mãe nasceu. Parecia que já conhecia, tudo era familiar.



Tudo isto provocou em mim uma sensação de preenchimento, quero dizer, finalmente conheci a "Never Land", o sítio que durante toda a minha infância ouvi falar. Foi magnífico, foi o regresso às origens.












quarta-feira, 6 de fevereiro de 2008

É perto... São só 1800 km.



Neste lugar L os dias começam sempre mal, seja por causa do trânsito, seja porque as saudades nos tiram ânimo. Mas nem tudo é mau, graças ao facto de estar neste lugar L foi possível, no fim-de-semana, fazer mais uma viagem daquelas que ficam para contar-mos aos nossos netos.
Não sei se já vos disse mas a 50 km de Luanda, estamos no paraíso. Praias infindáveis, estradas sem ninguém, só paisagem e calor.
No dia 2 de Fevereiro, às 4 da manhã, partimos de Ramiro, a 36 km de Luanda, para o Lubango a 1800 km de distância. Fomos munidos de vontade, sandes, água, Coca Cola e de um Landcruiser bem equipado. Aliás sem este transporte se calhar teríamos ficado pelo caminho.
Viajar por Angola é algo que implica muita concentração, cuidado e experiência (obrigado Nelson, nome de código November, pelo cuidado). Na estrada todos andam como loucos, há buracos à espreita em todo o lado e muitas estradas são, digamos, uma amálgama de crateras polvilhada com pedaços de estrada. O que é bem pior de que uma picada (termo utilizado para definir uma estrada sem alcatrão).
Nesta viagem descobrimos porque razão quando perguntamos a um angolano se tal sítio fica longe, ele responde sempre que é perto. Realmente este país é enorme, 3600 km dá para percorrer Portugal de uma ponta à outra quase três vezes e ainda voltar a trás a meio caminho se me tiver esquecido de alguma coisa em Faro. Pois, está claro que se algo ficar a 15 km de distância, irás ouvir de um angolano que tal local fica já ali.
Quase no final da viagem demos por nós a dizer que já estávamos a chegar, isto quando faltavam duas horas e meia de caminho. Basicamente era como se tivéssemos acabado de sair do Porto em direcção a Lisboa, é esta a comparação que posso fazer.
Vale a pena visitar Angola, se este país não fosse tão rico em recursos naturais de certeza que seria um local de turismo por excelência. Isto para não falar nas milhares de pessoas que sairam daqui durante os tempos mais conturbados, e de certeza que gostariam de revisitar os locais onde viveram. Sobre isto vou deixar a Pablo falar, é que foi por causa dela que fizemos 3600 km em três dias, sendo que um deles foi passado no Lubango, mais própriamente na Escola de Regentes Agricola do Tchinviguiro.

sexta-feira, 25 de janeiro de 2008

Isto só mesmo em Angola








Esta foto pode parecer algo de normal, no entanto de normal não tem mesmo nada. Ora vejamos qual é o país em que para fugir ao transito os carros optam pela praia? Sim... Isso mesmo a praia. Os jipes (e não só) fazem filas por entre as areias e pelas ondas do mar.



Realmente nós tugas podíamos fazer o mesmo. Qual é o problema? Apenas estragamos as nossas praias e destruímos todas as habitações das redondezas. Qual é problema? Volto a perguntar.






terça-feira, 22 de janeiro de 2008

Angola também tem coisas boas


Caros camaradas

Angola não tem coisas apenas más, quer dizer neste momento estamos a viver uma má situação, no entanto reconheço que este país tem algo que me fascina. Não sei é aquela coisa da "Mãe África" parece que foi aqui que tudo começou e tu reconheces as tuas raízes.
Como podem vizualizar pela foto acima, o rio Kwanza que passa pelo Dondo, é uma imagem fantástica, a Natureza aqui fala por si. Depois do stress do movimento e confusão em Luanda, andamos 150km e lá está o paraíso, a paz.

Nos dias de semana a única coisa que apetece é fugir, apanhar o primeiro avião para qualquer sítio menos ali, mas aos fins de semana, quando tens guito para passear (o que nem sempre acontece, para os mais atentos Luanda é a cidade mais cara do mundo) vês outra realidade a razão pela qual África tem algo mágico, as paisagens e os rios são visões que jamais irei esquecer. As pessoas das províncias nada têm haver com a gentes de luanda. São mais dóceis e inocentes, o mundo para elas não passa daquele verde que a guerra não consegui destruir.

Por isso, caros leitores deste blog, Angola não é só coisas más

segunda-feira, 21 de janeiro de 2008

Deus provavelmente é angolano

E MESMO EM FRENTE, DO OUTRO LADO DA ESTRADA:


O que vou escrever aqui até pode parecer racista mas não o é. Trata-se apenas de uma constatação: É que os angolanos têm mesmo muita sorte.

Comecemos pelos primórdios mas aviso já que não vou ser muito cronologicamente correcto.

Angola teve guerras com o reino do Congo, teve guerras tribais, teve o comércio de escravos, teve o colonialismo, teve a guerra da independência, teve guerra civil, teve milhões de minas (que representavam um número de duas ou 3 por cada angolano), teve sempre malária e outras doenças normais para um país de clima tropical, tem agora o HIV e a SIDA a disparar.

Mesmo assim a população continua a crescer, a economia continua a desenvolver-se, o povo tem um forte sentimento patriótico, o país é visto como um local onde os negócios dão lucro, etc...

Não, isto não é uma ode às qualidades angolanas, vejam isto mais como uma introdução para uma opinião.

Eu não sei como é que este país ainda é povoado, é que para além das adversidades pelas quais passaram e sobreviveram, há coisas que se passam neste país (se calhar noutros que se dizem mais desenvolvidos também mas é dificil encontrar porque são escondidas) que se acontecessem na idade média davam em surtos de peste negra, lepra e outras doenças de morte e transmissão em massa.

Passo a explicar:

Luanda já foi a pérola de África, como eu já disse, neste momento os seus arredores são uma amálgama de gente a viver em barracas, sem água corrente, com luz puxada dos postes de electricidade, os quais rebentam por causa da sobrecarga.

Os esgotos correm a céu aberto e as pessoas escolhem locais próximos deles para se sentarem a vender fruta, pão, sandes que fazem na hora, carne, bebidas, qualquer coisa.

As ruas dos musseques e de certas zonas da cidade, como os Congolenses, são os locais do mercado que é feito com um simples pano no chão. O lixo abunda nessas ruas e as pessoas não parecem incomodadas já que se vê, muitas vezes, crianças a brincar nas montanhas de plástico e papel e adultos a remexerem nos esgotos.

Tudo se vende, tudo se compra. Ténis de marca, fatos, mata-ratos, mobília para escritórios, jovens adolescentes masculinos fazem a manicure a mulheres na rua (sim é uma observação um pouco machista da minha parte). Putos de óculos escuros da Christian Dior, com calça de ganga da moda e t-shirt da Timberland engraxam sapatos na rua ao mesmo tempo que atendem o telemóvel de última geração.

É um país onde a palavra de ordem é o desenrasque e a profissão geral é Bizzneiro (do inglês Business :) ). Há quem passe fome de certeza mas isso não dá para quantificar porque toda a gente vende comida na rua.

No meio disto tudo, o trânsito é caótico mas o maior problema é a forma como conduzem e o estado geral do parque automóvel. Entre Hummers, Audis Q7 e outros maquinões, há Toyotas Hiace, Starlet e Corolla completamente na sucata, sem luzes à frente ou a trás, rodas mal apertadas a oscilar, chassis tortos com as rodas numa direcção e a carroçaria noutra, tejadilhos dobrados a 90 graus, mas tudo a rolar na estrada. Tem amortecedor partido, caga nisso. Não tem luzes de presença e à frente só há um máximo para dar luz, é assim mesmo que vai. De noite estamos bêbedos e queremos andar mais devagar em qualquer uma das faixas, mesmo em contra-mão, acendem-se os quatro piscas e os outros que se lixem. Queres-me ultrapassar e eu vou na faixa contrária, azar o teu ,espera que eu vá para a minha mão.

Deus só pode mesmo ser angolano, só isso explica não haver ainda mais mortalidade infantil, acidentes de viação mortais e o facto de, no meio disto tudo, não surgir uma doença mutante de contágio simples que extermine tudo o que respira (mesmo eu) neste país, é que há muita matéria prima para surtos de uma qualquer patologia pestilenta.

Mas meus amigos, isto aqui não é mais do que Portugal há 18 ou 19 anos, versão exagerada, antes dos fundos de coesão, antes das Expos. Se em alguns bairros de Lisboa havia uma certa qualidade de vida, nos arredores, como por exemplo na Quinta das Laranjeiras, nos Olivais, não. Nesse local onde vivi, eu também brinquei no lixo, andei descalço e em tronco nu nos esgotos que saiam dos prédios. Aliado a isto, na cave do meu prédio, vários tóxico-dependentes injectavam-se e deixavam as seringas ao Deus Dará.

Angola está em reconstrução, a população precisa de ser reeducada, e o povo faz o que pode para sobreviver esta é a realidade.

segunda-feira, 14 de janeiro de 2008

Adormecido

Luanda tem o poder de nos adormecer. A coisa mais ultrajante em que possamos pensar aqui é normal, normalissimo, tranquilo, sei lá sem problema. Passo a explicar:
Afinal quando vos disse que fazia 20km em duas horas, afinal são apenas 8km pois contei-os no outro dia. Hoje demorámos apenas uma hora. Que graça, estão a ver este apenas que coloco aqui demonstra já o estado amorfo em que me encontro.
Nesta empresa angolana as coisas também não são melhores. Fui passar o Natal a casa por ordem de um chefe, veio logo outro dizer que estávamos a desrespeitar o contrato. Ui... Que se lixe o contrato, quero é o meu Natal com a minha família.
De volta a este lugar L, desde dia 9, a minha vida não mudou muito em comparação com as primeiras semanas em que cheguei. Sem um tusto no bolso mas com um jipe, sem saldo no telemóvel mas com um portátil e internet wirelesse.
Os gajos ainda não pagaram Dezembro porque, ora vamos lá ver... Huum!!! Ah já sei, o chefe anda em negócios na China, portanto os tugas que aguentem.
Aí mãe, já nem sei o que faço cá. Vim para fazer jornalismo mas escrevi apenas duas peças nestes dois meses que aqui estou. Pararam os jornais e demoraram duas semanas para paginar uma edição de 24 páginas, com 8 de publicidade, mas está tudo normal...
Agora aguardo lentamente o início dos trabalhos, o que basicamente quer dizer que não faço nada.
Ok... De que raio me queixo então... Já me lembrei! Tem qualquer coisa a ver com o querer construir uma carreira, fazer algo de bom na minha área num país que tem muitas lacunas no jornalismo mas parece que está tudo contra mim.
Esta frase explica o meu espírito e destroça-me o ego: VAMOS VER...