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segunda-feira, 18 de fevereiro de 2008

O regresso às origens


Leitores deste blog ou amigos que são diariamente obrigados a lê-lo




Sei que há muito que deveria ter escrito sobre a viagem (raid) que fizemos ao Lubango, mais propriamente ao Tchivinguiro ( não procurem no mapa porque acho que não aparece). O porquê desta viagem? É simples, aquela terra, que não existe no mapa, é onde estão as minhas raízes. A minha mãe nasceu lá e o meu avô foi um dos fundadores daquela região, que pelo seu clima pouco quente e até chuvoso, parece que estamos algures no alentejo (no Inverno) e não no sul Angola.


Sim, a minha família esteve lá na época da colonização mas, de colonos tinha pouco. O meu avô deixou marcas de carinho e respeito pelos cidadãos, nunca tratou ninguém com diferença. Esta afirmação fez com que me sucundissem umas lágrimazitas...Ok chorei como se não houvesse amanhã.


Bom, mas vamos lá começar. Cheguei ao Tchivinguiro, depois de uma viagem atribulada que o meu colega ja expôs. Procurei pelo antigo amigo da família, o xico. Lá indicaram-me onde morava. Por entre caminhos cheios de buracos lá demos com a sua cobata. Apressei-me a sair do carro e de repente "o mais velho" ou o "soba" veio na minha direcção. Para meu espanto esse senhor era mesmo o Xico. Reconheci-o porque tinha a sua foto, mas ele nem fazia ideia quem eu era. Pensava simplesmente que era mais uma "pula" (branca).



Quando disse o meu apelido e de quem era neta a emoção começou, parecia uma cena daquele antigo programa "ponto de encontro", digna de choro, posso mesmo dizer que os meus amigos também verteram as suas lágrimas.




Ele apresentou-me à família e, ao mesmo tempo ia apregoando, a quem quissesse ouvir, que eu era neta de uma grande senhor de quem ele jamais iria esquecer. Contou-me histórias da minha família, recordava-se de tudo. Bolas, um senhor de 80 anos com uma memória de elefante, eu tentei acompanhar e ouvir tudo para reter a informação toda.


Depois levou-me a passear pelo tchivinguiro. Conheci a escola de regentes agrícolas, onde o meu avô foi director, e no momento em que me indicou onde era a sala dele comecei novamente com o choro... Não consegui controlar, mas juro que tentei.


Logo a seguir fui ver a casa onde a minha família viveu e depois o sítio onde a minha mãe nasceu. Parecia que já conhecia, tudo era familiar.



Tudo isto provocou em mim uma sensação de preenchimento, quero dizer, finalmente conheci a "Never Land", o sítio que durante toda a minha infância ouvi falar. Foi magnífico, foi o regresso às origens.












quarta-feira, 6 de fevereiro de 2008

É perto... São só 1800 km.



Neste lugar L os dias começam sempre mal, seja por causa do trânsito, seja porque as saudades nos tiram ânimo. Mas nem tudo é mau, graças ao facto de estar neste lugar L foi possível, no fim-de-semana, fazer mais uma viagem daquelas que ficam para contar-mos aos nossos netos.
Não sei se já vos disse mas a 50 km de Luanda, estamos no paraíso. Praias infindáveis, estradas sem ninguém, só paisagem e calor.
No dia 2 de Fevereiro, às 4 da manhã, partimos de Ramiro, a 36 km de Luanda, para o Lubango a 1800 km de distância. Fomos munidos de vontade, sandes, água, Coca Cola e de um Landcruiser bem equipado. Aliás sem este transporte se calhar teríamos ficado pelo caminho.
Viajar por Angola é algo que implica muita concentração, cuidado e experiência (obrigado Nelson, nome de código November, pelo cuidado). Na estrada todos andam como loucos, há buracos à espreita em todo o lado e muitas estradas são, digamos, uma amálgama de crateras polvilhada com pedaços de estrada. O que é bem pior de que uma picada (termo utilizado para definir uma estrada sem alcatrão).
Nesta viagem descobrimos porque razão quando perguntamos a um angolano se tal sítio fica longe, ele responde sempre que é perto. Realmente este país é enorme, 3600 km dá para percorrer Portugal de uma ponta à outra quase três vezes e ainda voltar a trás a meio caminho se me tiver esquecido de alguma coisa em Faro. Pois, está claro que se algo ficar a 15 km de distância, irás ouvir de um angolano que tal local fica já ali.
Quase no final da viagem demos por nós a dizer que já estávamos a chegar, isto quando faltavam duas horas e meia de caminho. Basicamente era como se tivéssemos acabado de sair do Porto em direcção a Lisboa, é esta a comparação que posso fazer.
Vale a pena visitar Angola, se este país não fosse tão rico em recursos naturais de certeza que seria um local de turismo por excelência. Isto para não falar nas milhares de pessoas que sairam daqui durante os tempos mais conturbados, e de certeza que gostariam de revisitar os locais onde viveram. Sobre isto vou deixar a Pablo falar, é que foi por causa dela que fizemos 3600 km em três dias, sendo que um deles foi passado no Lubango, mais própriamente na Escola de Regentes Agricola do Tchinviguiro.