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terça-feira, 1 de setembro de 2009

"Sabes que isto também farta!!"

Hoje vou-me deitar com saudades de Luanda, saudades do casal Bicheiro e da sua casa, saudades da amiga xana e das suas baratas, saudades do bafo quente e ar húmido do Cacimbo.
Deito-me com saudades porque no outro dia telefonei para o Lugar L e do outro lado recebi um olá triste, cansado e saudosista.
Perguntei:
-Então que se passa?
-Olha estou cansado disto. Sabes que isto também farta!!

É verdade, Luanda cansa até ao ponto de querermos chorar.
Chegava a casa, tirava uma Cuca do frigorífico, ligava o AC, ligava a televisão e sentava-me no sofá completamente estafado, farto do trânsito, farto da confusão, farto das complicações no trabalho.

Por estranho que pareça tenho saudades disso, saudades de quando ligava aos amigos só para desabafar, para ir a casa deles e dizer mal de tudo e todos, sentir que era compreendido por eles (pois todos, volta e meia, se sentiam como eu) ria-mo-nos e de manhã lá voltávamos à luta.

Abraço malta, força aí que isto aqui é mais fácil mas deixa-nos dormentes e sem identidade. Acreditem...

quinta-feira, 30 de abril de 2009

Isto foi o que Angola me deixou

Hoje acordei assim.....
Uma saudade das terras vermelhas de Angola, da despreocupação de não ser eu a pagar as contas, do calor, da inércia, de haver sempre solução para todas as "makas". Porquê que acordei assim??? Não sei. Tudo corre bem. Um trabalho bom e uma vida bem mais estável não são indicadores de que possa, alguma vez, ter saudades da inconstância de lá. Mas tenho.
Tenho medo de não poder voltar, de ficar presa às garras europeias que nos cozinham uma vida que não é fácil fazer planos para ir a África. Estou finalmente agarrada ao medo, ao famoso medo típico dos tugas. Temos medo, vivemos com medo e nostalgia, vivemos pacificamente tristes. Foi hoje que olhei à minha volta e tive frio, ouvi silêncio e pensei onde está a confusão????
Isto foi o que Angola me deixou...saudades. Não de tudo, nem de todos, mas saudades.
E o que deixei eu em Angola???? Eu acho que nada. Fui apenas uma transeunte que por lá passou, nada nem ninguém se recorda mais.....

segunda-feira, 2 de março de 2009

Pôr-do-sol

Esta foto foi tirada no Ramiro, localidade situada no km 46 da estrada nacional angolana que vai de Luanda à Barra do Kwanza. É impossível não ter saudades de um Lugar que tem um pôr do sol assim!!!
Por acaso, ontem, o final de tarde também me presenteou com um pôr-do-sol brutal, mesmo aqui na Póvoa de Santa Iria. Tinha acabado de chover e algumas nuvens mais escuras clarearam-se com os últimos raios de sol. O céu pintou-se de um lilaz, laranja e azul e também achei que era impossível não ter saudades de um Lugar com um pôr-do-sol assim (pena não ter foto para o ilustrar). Fica aqui uma imagem de outro pôr-do-sol da tuga tirado por mim, noutro dia qualquer.

quarta-feira, 18 de fevereiro de 2009

Indecisão decidida

Recebi uma proposta.
Vou?? Hum...
E a calma; e o acordar bem mais tarde; e o trajecto trabalho/casa - casa/trabalho; e as poucas viagens a Portugal; e a namorada; e a família; e os amigos; e os passeio de moto; e os museus; e os monumentos; e os estádios; e os concertos; e o Inverno; e a Primavera; e o Verão; e o Outono; e os centros comerciais; e o cinema a qualquer dia; e o ginásio; e o querer construir uma vida; e o não me sentir preso durante a semana; e a saúde?

Recebi uma proposta.
Não vou?? Hum...
E o calor; e o viver fora de casa dos pais; e os passeios no mato; e a praia; e os amigos de Luanda; e as Cucas; e as mulatas; e o dinheiro; e o facto de ser África; e as histórias; e as lendas; e o misticismo; e a casa do nelson; e a falta de pressão de que tenho de construir uma vida; e a despreocupação?

Muitas coisas a favor e muitas contra, umas conseguem entender, outras só eu entendo.

sexta-feira, 6 de fevereiro de 2009

Novo cabeçalho

Como podem ver, mudámos o cabeçalho. O texto anterior já não fazia sentido, aliás já não fazia sentido há muito tempo, mesmo antes de termos regressado a Lisboa.

sexta-feira, 16 de janeiro de 2009

Caos versus confusão organizada

Este frio nunca mais acaba, mas também faz falta eu sei. O problema é que eu estive um ano a viver no Verão, e se um mezinho ou dois de frio até sabiam bem, três já começam a ser impossíveis de aguentar.
Ando a praticar um novo desporto que se chama transitar de mota entre as filas de trânsito da 2ª Circular e da A1, nada que se compare ao avanço em centímetros pela estrada da Samba, ou ao corta-mato pela praia da Corimba (na ida e na volta) com direito a pôr-do-sol e tudo.
Num desses meus corta-matos pela praia atropelei um miúdo (bom não foi bem atropelar, foi mais mandar ao chão) tão rápido que ele caiu, tão rápido que ele se levantou a fugir com os amigos (era um grupo de amigos que caminhava pela praia, eu ia devagar e apitei a avisar, todos fugiram para a esquerda e um deles fugiu para a direita, coitado levou um toquezinho mas sem makas). Quando eu me preparava para sair, um grupo de rapazes mais velhos cercou-me o carro e começou a fazer gestos pouco amigáveis (para não dizer pior), nessa altura engrenei a mudança e sai dali a apitar para que me saíssem da frente, não foi nada demais mas deu para assustar.
Na 2ª circular ou na A1 não há barcos para contornar, não há motivos para parar o carro só porque os pescadores estão a puxar as redes, não há noites em que somos obrigados a esperar que as ondas do mar recolham para que possamos passar ao terreno mais seco à frente, de modo a não sermos levados, em conjunto com o jipe, para o meio da baía. Nas avenidas de Lisboa não há Toyotas Hiace cheias de gente, enterradas até às portas na areia; não há carrinhos pequeninos, daqueles que servem em Portugal para estacionar em lugares minúsculos, que de tão leves que são voam sobre as dunas. Mas há pessoas que ficam irritadas porque os das motas (como eu) transitam entre os espaços que eles deixam nas filas longas (mas não tão longas quanto as de Angola), há também carros que não deixam os peões andar nos passeios (é parecido com o contornar dos barcos na Corimba) e por fim, há um rol de condutores que não conhece o conceito de passadeira (uma espécie de paragem obrigatória quando os pescadores puxam as redes).
Mas desculpem lá, apesar desta toada saudosista, não deixo as filinhas daqui pelo caos de lá.

sexta-feira, 9 de janeiro de 2009

De volta a Lisboa, de volta à realidade

Desde Novembro de 2008 que estou em Portugal, há mais ou menos dois meses, mas só agora regressei à rotina de um país "civilizado". Estive numas férias bimensais entre o regressa ou não regressa a Luanda, a viver o descanso de quem perdeu uns anos de vida com o quotidiano angolano, e a viver como alguém que não tem outras responsabilidades que não as de longo prazo (tudo o que envolva uma vida mais "adulta", desde sair da casa dos pais a todos os padrões de vida que nos são incutidos desde pequenos). Resumindo: estive de férias sem trabalho certo no retorno das mesmas.
Agora arranjei um emprego na área, nada de fora de série, mas pelo menos consegui o impossível, nos tempos que correm, um trabalho em jornalismo.
Neste lugar L (Lisboa) também há trânsito, mas há frio e há pessoas que nem notam que existimos, não me sinto incomodado com isso, mas noto a diferença.
Em Luanda as pessoas olham para ti, reparam em ti na rua, eu sentia que não conseguia passar despercebido ao percorrer as ruas luandenses, aqui somos mais um na multidão.
Falta aqui qualquer coisa, sejam os vizinhos e seguranças a quem dizia bom dia na entrada dos prédios onde vivia e onde trabalhava, seja o puto que me diz que me vai lavar ou controlar o carro.
Neste lugar L não temos que interagir com desconhecidos, só mesmo em momentos de ruptura (qualquer atrito que exista na estrada, rua ou metro).
Aqui vivo a rotina da civilização moderna, sou mais um entre muitos, lá era o "pula", o "tuga", o "tigas", o "cota" ou o "padrinho".
Não são saudades (por muito que as tenha mais em relação aos amigos), é apenas uma análise.