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segunda-feira, 21 de janeiro de 2008

Deus provavelmente é angolano

E MESMO EM FRENTE, DO OUTRO LADO DA ESTRADA:


O que vou escrever aqui até pode parecer racista mas não o é. Trata-se apenas de uma constatação: É que os angolanos têm mesmo muita sorte.

Comecemos pelos primórdios mas aviso já que não vou ser muito cronologicamente correcto.

Angola teve guerras com o reino do Congo, teve guerras tribais, teve o comércio de escravos, teve o colonialismo, teve a guerra da independência, teve guerra civil, teve milhões de minas (que representavam um número de duas ou 3 por cada angolano), teve sempre malária e outras doenças normais para um país de clima tropical, tem agora o HIV e a SIDA a disparar.

Mesmo assim a população continua a crescer, a economia continua a desenvolver-se, o povo tem um forte sentimento patriótico, o país é visto como um local onde os negócios dão lucro, etc...

Não, isto não é uma ode às qualidades angolanas, vejam isto mais como uma introdução para uma opinião.

Eu não sei como é que este país ainda é povoado, é que para além das adversidades pelas quais passaram e sobreviveram, há coisas que se passam neste país (se calhar noutros que se dizem mais desenvolvidos também mas é dificil encontrar porque são escondidas) que se acontecessem na idade média davam em surtos de peste negra, lepra e outras doenças de morte e transmissão em massa.

Passo a explicar:

Luanda já foi a pérola de África, como eu já disse, neste momento os seus arredores são uma amálgama de gente a viver em barracas, sem água corrente, com luz puxada dos postes de electricidade, os quais rebentam por causa da sobrecarga.

Os esgotos correm a céu aberto e as pessoas escolhem locais próximos deles para se sentarem a vender fruta, pão, sandes que fazem na hora, carne, bebidas, qualquer coisa.

As ruas dos musseques e de certas zonas da cidade, como os Congolenses, são os locais do mercado que é feito com um simples pano no chão. O lixo abunda nessas ruas e as pessoas não parecem incomodadas já que se vê, muitas vezes, crianças a brincar nas montanhas de plástico e papel e adultos a remexerem nos esgotos.

Tudo se vende, tudo se compra. Ténis de marca, fatos, mata-ratos, mobília para escritórios, jovens adolescentes masculinos fazem a manicure a mulheres na rua (sim é uma observação um pouco machista da minha parte). Putos de óculos escuros da Christian Dior, com calça de ganga da moda e t-shirt da Timberland engraxam sapatos na rua ao mesmo tempo que atendem o telemóvel de última geração.

É um país onde a palavra de ordem é o desenrasque e a profissão geral é Bizzneiro (do inglês Business :) ). Há quem passe fome de certeza mas isso não dá para quantificar porque toda a gente vende comida na rua.

No meio disto tudo, o trânsito é caótico mas o maior problema é a forma como conduzem e o estado geral do parque automóvel. Entre Hummers, Audis Q7 e outros maquinões, há Toyotas Hiace, Starlet e Corolla completamente na sucata, sem luzes à frente ou a trás, rodas mal apertadas a oscilar, chassis tortos com as rodas numa direcção e a carroçaria noutra, tejadilhos dobrados a 90 graus, mas tudo a rolar na estrada. Tem amortecedor partido, caga nisso. Não tem luzes de presença e à frente só há um máximo para dar luz, é assim mesmo que vai. De noite estamos bêbedos e queremos andar mais devagar em qualquer uma das faixas, mesmo em contra-mão, acendem-se os quatro piscas e os outros que se lixem. Queres-me ultrapassar e eu vou na faixa contrária, azar o teu ,espera que eu vá para a minha mão.

Deus só pode mesmo ser angolano, só isso explica não haver ainda mais mortalidade infantil, acidentes de viação mortais e o facto de, no meio disto tudo, não surgir uma doença mutante de contágio simples que extermine tudo o que respira (mesmo eu) neste país, é que há muita matéria prima para surtos de uma qualquer patologia pestilenta.

Mas meus amigos, isto aqui não é mais do que Portugal há 18 ou 19 anos, versão exagerada, antes dos fundos de coesão, antes das Expos. Se em alguns bairros de Lisboa havia uma certa qualidade de vida, nos arredores, como por exemplo na Quinta das Laranjeiras, nos Olivais, não. Nesse local onde vivi, eu também brinquei no lixo, andei descalço e em tronco nu nos esgotos que saiam dos prédios. Aliado a isto, na cave do meu prédio, vários tóxico-dependentes injectavam-se e deixavam as seringas ao Deus Dará.

Angola está em reconstrução, a população precisa de ser reeducada, e o povo faz o que pode para sobreviver esta é a realidade.

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