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domingo, 14 de setembro de 2008

Tempo de Heróis

Vem aí o Dia do Herói Nacional, trata-se de um feriado que rende homenagem ao pai da Angola independente. Agostinho Neto, o Poeta Presidente, diz quem o conheceu que tinha o dom de unir o povo em torno do ideal de uma Angola independente e sem guerra.
Neste momento imagino os tempos de guerra em Angola, após a debandada portuguesa, penso nos militares angolanos das FAPLA, que pouco mais que um treino básico tinham. Penso em todos os angolanos, que mesmo tendo nascido como portugueses, lutaram por uma Angola livre. Para eles era bem mais fácil regressar, teria sido mais fácil abandonar tudo do que ver o fruto do seu trabalho ser destruído, teria sido muito mais fácil ir para o conforto mesmo de um país estagnado (Portugal) do que continuarem a ser perseguidos. Mas muitos ficaram e abraçaram a luta armada contra os invasores estrangeiros.
Não sei como as coisas chegaram ao ponto de uma guerra civil. Eu entendo a guerra pela independência, não entendo a guerra civil. Este período veio dar razão aos fascistas que diziam que Angola não seria nada sem eles, e de facto durante muito tempo esse parecia o destino.
É fácil apaixonarmo-nos pelo "fado" angolano, talvez por, há coisa de 15 dias, ter sido escrita a sua última estrofe, e ter sido feito um último exorcismo.

Escrevo aqui alguma da História de Angola como se de uma sinopse de um filme se tratasse:
Angola um país que após conseguir a sua independência, vê no sonho de um homem (Agostinho Neto) o seu futuro. Uma nação de iguais, para iguais. Do outro lado, forças que pretendem o controlo da nação pela guerra (UNITA e FNLA).
Mesmo dentro do partido do Poeta Presidente (MPLA), houve problemas sérios que culminaram com o 27 de Maio de 1977. E muitos "filhos dos colonos", mesmo aqueles que lutaram contra o país dos seus pais, foram afastados da luta pela paz. Muitos abandonariam a sua pátria, para regressar à dos pais.
Após anos de guerra civil, a paz da nação é pendurada pelo resultado de umas eleições, o povo sai à rua e grita (por cruz) a sua decisão. Um dos derrotados (Savimbi líder da UNITA) não acata a voz da pátria e lança o país em mais uma guerra fratricida de 16 anos.
Savimbi morreu e o povo angolano largou as armas, largou a guerrilha, uniu-se em torno da paz. Um Governo de Unidade Nacional foi criado e forças que outrora lutaram no campo da batalha constroem um país a partir dos escombros deixados pelas três décadas de guerra. Em seis anos o país cresce, de 2002 a 2008, como nenhum cresceu durante esse tempo. E finalmente o povo sai à rua e grita (por voto) a sua escolha. Os que sempre protegeram a população são legitimados e os outros perdem. Final feliz.

Para ser completamente verdadeiro, peço que esqueçam os rumores ou realidades de corrupção, peço que esqueçam a mágoa que tenham por terem abandonado este país sob a ameaça da guerra ou de uma perseguição por serem brancos e como tal "colonos, fascistas e invasores". Eu sei que é difícil, pois algumas das pessoas que aqui estão no poder, terão sido as mesmas que espalharam terror na aparente calmaria do "império português". Mas esses não são mais do que aquilo que os exércitos de Afonso Henriques foram para os espanhóis e para os mouros, com a vantagem de que realmente estes de cá lutaram pela sua terra.
Concentrem-se apenas na história de um país que ainda sabe o que são heróis, que ainda os homenageiam, que ainda pode falar com eles ou mesmo falar com quem os conheceu de perto. É esta a fibra deste país, todos foram heróis pelo que aguentaram de guerra e de fome. Em Portugal os heróis são escorraçados para o desemprego e existem na penumbra dos Média, os heróis sobrevivem em surdina na miséria de um cheque da segurança social e são escondidos e maquilhados pelas iniciativas governamentais contra a pobreza.
Já não há heróis portugueses, mas os angolanos ainda o continuarão a ser até caírem na armadilha do conforto de uma paz sem luta de ideias, como Portugal caiu.
Cá, este tempo é o de celebrar os heróis de Angola e sobretudo o seu maior, o Poeta Presidente, Agostinho Neto, ou como alguém disse: "Na próxima quarta-feira decorre mais um aniversário de Agostinho Neto, aquele que, depois de derrotar os invasores estrangeiros e libertar a pátria, apenas reclamou dos seus pares o direito de ouvir a chuva e ouvir os silvos do vento. Nesta tristeza à média luz, sobra a alegria de, finalmente, o MPLA ter passado pelo teste de eleições, sem ameaças. Parabéns, Camarada Presidente”. In Jornal da Angola, Crónica à Média Luz, de Artur Queiroz.

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