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quinta-feira, 5 de dezembro de 2013

MONTHLAG

No caminho que faço todos os dias para casa, passo por um calçadão. Nome dado a uma espécie de rotunda oval onde as pessoas encontram-se para fazer exercício, conviver, etc...
É mesmo neste local, situado no meio da estrada da Samba, que colocaram uma árvore de Natal do estilo da que existiu no Terreiro do Paço, há uns anos, mas mais pequena.
Isto de ver enfeites de Natal sem frio, sem o cheiro a lareira no ar, cria uma patologia que eu vou denominar por MONTHLAG.

À semelhança daquilo que as pessoas sofrem com o Jetlag, o Monthlag provoca no organismo dos seus portadores um desfasamento temporal:
Não sinto que seja época natalícia porque está calor.
Não sinto que seja época natalícia porque não vejo assim tantas ruas enfeitadas, apesar de já haver muitas por aqui.
Não sinto que seja época natalícia porque em minha casa ainda não há árvore, nem enfeites.
Não sinto que seja época natalícia pois não vejo assim tanta azáfama na rua e nas lojas. Antes pelo contrário, o trânsito anda muito mais calmo, já que a cidade vai esvaziando aos poucos com as crianças que entram de férias, muitas seguindo para Portugal e outros países.
Não sinto sequer que seja Dezembro porque não sinto a época natalícia no ar.
Não sinto sequer que seja Dezembro pois falta-me o cheiro, as luzes, o clima de estar em Lisboa em Dezembro.
Não sinto sequer que seja Dezembro porque não há local onde beber um cacau quente ou capuccino, algo que só se eu fosse parvo é que beberia com o calor que faz em Luanda.
Não sinto sequer que seja Dezembro porque ainda não me constipei.
Não sinto sequer que seja Dezembro porque não ando de casaco e de cachecol.
Não sinto sequer que seja Dezembro porque já fui há praia e mergulhei no mar.
Não sinto sequer que seja Dezembro porque estou bronzeado.

Então entro neste ciclo estranho de estar na época de mas sem a viver, o que me provoca uma sensação de estar preso num ano contínuo. Este sintoma faz do Monthlag uma patologia que poderá nunca ser ultrapassada.
O Monthlag é também agravado pela falta de celebrar os aniversários da família e dos amigos que estão em Portugal.
O Monthlag é agravado porque nas redes sociais, nos jornais online e no telejornal só se fala de Inverno e de Natal e vê-se pessoas de guarda-chuva, botas e casacos.

Resumindo o Monthlag ataca sobretudo ex-cidadãos do Hemisfério Norte que passaram a viver no Hemisfério Sul. 

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