A minha recente condição de emigrante, pouco me tem transtornado desde que regressei a Luanda. Talvez por este ambiente não ser novo para mim, talvez por não estar sozinho e talvez porque a alternativa a vir para aqui há muito que não me preenchia. Mas há alguns exemplos de como o "espírito" emigrante se manifesta em pequenos detalhes do meu dia-a-dia:
-As músicas portuguesas de bandas portuguesas parecem ter muito mais significado e qualidade! Ornatos Violeta, Deolinda, Xutos e Pontapé, Clã, Capitão Fausto, Camané, entre outros, têm letras que me levam a sentir aquela coisa muito tuga da saudade.
-Quando os meus pais me ligam e o tom de voz é sempre de preocupação do outro lado e a nossa voz tem de ser sempre de grande segurança deste lado. A família faz muita falta a um gajo.
-As más notícias de Portugal deixam-nos tristes e revoltados, enquanto que a minha atitude em Portugal era mais de um conformismo que me deixava dormente, tal a necessidade de me obrigar a dizer "deixa andar".
-Há também vários momentos ao longo do dia em que me lembro de passar por locais que nem sequer têm significado nenhum. Tipo a rotunda no Poço Bispo com a estátua de homenagem aos arquitectos da cidade de Lisboa, ou o trecho da Nacional 10 de Santa Iria à Póvoa de Santa iria. Quando um gajo sente saudades de passar no Poço Bispo o que se há de dizer da sua condição mental...
Isto são tudo manifestações próprias de quem sente falta das pessoas, do seu país, da sua cidade (Lisboa) e do seu quotidiano nele. Claro que não vou deixar crescer o bigode (se bem que já estive mais longe), comprar uns cães de loiça, desenhar o símbolo da FPF na porta da mala do meu carro ou ir a concertos do Tony Carreira.
Mas sabem uma coisa? A condição de emigrante aqui é mais fácil do que aquilo que possa parecer. A maior dificuldade é a distância a que se está de Portugal e o preço da viagem, porque o facto de todos os dias encontrarmos dezenas de pessoas na mesma situação, funciona de alguma maneira como conforto, já que partilhamos quase todos os mesmo transtornos. Uns mais que outros...
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7 comentários:
Ora, Emigrante em Portugal, Imigrante em Angola... esqueces disso. Qualquer dia, sentes com o coração dividido :)
Calvin é como o outro disse: "nem sou de cá, nem de lá!"
Quando vieres vamos agarrar na sogra e vamos ao concerto do Tony, vais ver que depois desse dia perdes as saudades de Portugal
Saudades da N10...isso tá mesmo mau! Lembra-te das filas para sair da Póvoa de manhã...
Pois é Carla com o concerto do Tony sou bem capaz de ficar sem saudades :D.
Mónica! Filas para sair da Póvoa? Isso é para meninos, se eu te mostrar as filas para saíres da Samba até choras.
Gostei quando dizes ficamos dormentes em Portugal. É exactamente isso. Entendo que a saudade seja lixada e sei bem que essa cidade não é fácil, mas aguenta que aqui está prestes afundar.
Beijos e força
Olá Dom Tiago de Gonçalves :) É verdade que a maior parte das vezes não damos importância a pequenos pormenores do dia a dia que mais tarde, em situações e por razões diversas acabamos por sentir a falta :) Aproveitem bem a vossa passagem por aí...porque um dia mais tarde irás estar a escrever sobre as saudades das coisas que aí tinhas e que não davas o devido valor :) Abraço!!!
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